sábado, 6 de março de 2010

O progresso: uma vinha obediente...


Graças ao Reis, ao Tio Humberto e ao Manuel, eis como se apresenta a vinha hoje. Estacas maiores e arame  em duas filas, bem esticado, para a ajudar a crescer... para cima, e não para os lados ou espalhando-se na terra. A técnica é útil para evitar que a planta se desenvolva de forma caótica, espreguiçando-se um pouco à toa (coitada...) e depositando alguns cachos (muitas vezes os maiores e mais pesados) na própria terra, o que leva fatalmente a que se estraguem e não cresçam nem amadureçam como deve ser.


Estes paus mais grossos e inclinados, colocados no início das valeiras, são os suportes do sistema. Reparem no arame bem esticado e tenso graças aos esticadores no alto dos postes.


quarta-feira, 3 de março de 2010

O chefe também recomenda: Neve em Vale de Janeiro

Bem, o chefe não recomenda neve, que é uma coisa chata que se cola aos sapatos e se transforma numa papa lamacenta que se pega às baínhas das calças. Mas é bonito e dá a qualquer sítio um ar mimoso de aldeia da Heidi perdida nos Alpes suiços. Por isso aqui vão duas fotografias que, segundo a fórmula consagrada, mão amiga me fez chegar. São de Dezembro passado, após um pequeno nevão que muito levemente salpicou a aldeia de branco... Obrigado ao João Luciano (a mão amiga) e ao pai, Manuel Mota Vieira, autor das fotos! Penso que o Vasco também tirou algumas fotografias recentemente, que dentro em breve publicarei. Vou agora de pá e picareta procurar no disco rígido.

Hoje o chefe recomenda: Dom Casmurro

Publicado no Brasil em 1899, Dom Casmurro, de Machado de Assis, conta a história rocambolesca e por vezes dramática dos amores e desamores entre Capitu e Bentinho. Entre uma ida forçada para o seminário e um regresso, amizades, ameaças de suicídio e episódios saborosos, é vivamente recomendado na ementa do dia! Uma certa sociedade brasileira de finais do século XIX, retratada com engenho e génio, como ao mesmo tempo e com igual grandeza e ironia fazia o nosso Eça em relação à "choldra"...

terça-feira, 2 de março de 2010

Hoje o chefe recomenda: Raymond Depardon

Tenho uma admiração especial por um fotógrafo e cineasta francês, chamado Raymond Depardon. Filho de camponeses, ou agricultores, se preferirem, já que os pais possuíam uma pequena quinta na região francesa do Rhône. Nasceu em 1942 e iniciou-se muito cedo na fotografia, como aprendiz de um fotógrafo, se não estou em erro em Villefranche-sur-Sâone. Fotografou família e amigos da Ferme du Garet, onde nasceu e à qual dedicou um livro onde incluiu as suas primeiras fotografias e algumas imagens mais recentes, tristes e um pouco desoladas, com a casa, os estábulos e mesmo os campos hoje desertos. Já correu mundo, viu e fotografou guerras e conflitos, tornou-se "urbano" por dever de ofício mas regressa sempre ao mundo que o moldou e que hoje cada vez mais magneticamente o atrai. Sensível, atento, curioso, fotografou e filmou em vários períodos da sua vida o quotidiano das regiões rurais de França, a alma dos sítios, a angústia dos mais velhos, a apreensão de alguns, raros, jovens que se lançam na aventura de uma agricultura redentora e idealizada para quem chega da cidade. São três filmes cheios de silêncios, de ritmos lentos, feitos a passo de gente, com planos frontais e sem artifícios. Magnificamente "fotografados" (claro!), só alguém que conhece e compreende o mundo da terra, paciente mas obstinado, conseguiria transmitir de forma tão subtil esta realidade. "L'Approche", "Le Quotidien" e "La Vie Moderne" acompanham, ao longo de dez anos, a vida de agricultores franceses que vão assistindo impotentes e amargos ao desmoronamento de uma realidade que imaginavam eterna, inscrita na terra e na tradição. Fiquem com um pequeno excerto do último filme (cortesia Amazon.fr)  Profils paysans.
A par dos filmes fez também uma recolha fotográfica que reuniu neste livro. Para concluir e não aborrecer: escreve de forma justa e certeira, num estilo lúcido mas não lamuriento e sem demagogia barata.