terça-feira, 2 de março de 2010

Hoje o chefe recomenda: Raymond Depardon

Tenho uma admiração especial por um fotógrafo e cineasta francês, chamado Raymond Depardon. Filho de camponeses, ou agricultores, se preferirem, já que os pais possuíam uma pequena quinta na região francesa do Rhône. Nasceu em 1942 e iniciou-se muito cedo na fotografia, como aprendiz de um fotógrafo, se não estou em erro em Villefranche-sur-Sâone. Fotografou família e amigos da Ferme du Garet, onde nasceu e à qual dedicou um livro onde incluiu as suas primeiras fotografias e algumas imagens mais recentes, tristes e um pouco desoladas, com a casa, os estábulos e mesmo os campos hoje desertos. Já correu mundo, viu e fotografou guerras e conflitos, tornou-se "urbano" por dever de ofício mas regressa sempre ao mundo que o moldou e que hoje cada vez mais magneticamente o atrai. Sensível, atento, curioso, fotografou e filmou em vários períodos da sua vida o quotidiano das regiões rurais de França, a alma dos sítios, a angústia dos mais velhos, a apreensão de alguns, raros, jovens que se lançam na aventura de uma agricultura redentora e idealizada para quem chega da cidade. São três filmes cheios de silêncios, de ritmos lentos, feitos a passo de gente, com planos frontais e sem artifícios. Magnificamente "fotografados" (claro!), só alguém que conhece e compreende o mundo da terra, paciente mas obstinado, conseguiria transmitir de forma tão subtil esta realidade. "L'Approche", "Le Quotidien" e "La Vie Moderne" acompanham, ao longo de dez anos, a vida de agricultores franceses que vão assistindo impotentes e amargos ao desmoronamento de uma realidade que imaginavam eterna, inscrita na terra e na tradição. Fiquem com um pequeno excerto do último filme (cortesia Amazon.fr)  Profils paysans.
A par dos filmes fez também uma recolha fotográfica que reuniu neste livro. Para concluir e não aborrecer: escreve de forma justa e certeira, num estilo lúcido mas não lamuriento e sem demagogia barata.

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