domingo, 6 de novembro de 2011

Vale de Janeiro em 1758 - III


Terceira e última parte da Memória Paroquial de Vale de Janeiro de 1758, com as respostas sobre a Serra e o Rio

O QUE SE PROCURA SABER DESSA SERRA É O SEGUINTE:

As perguntas sobre a serra, 13 no total, obtiveram a seguinte resposta do Padre Diaz:

“Neste interrogatorio que fala da Serra nam tenho que falar por nam haver neste destrito couza alguma.”

O QUE SE PROCURA SABER DESSE RIO É O SEGUINTE:

Aqui chegado, e depois de alguns árduos dias passados a recolher dados e a transcrever as respostas à pena, a paciência já não devia ser a mesma. Talvez por isso as respostas às segunda e terceira partes demonstram menos método e rigor. A resposta às 20 perguntas sobre o Rio (Como se chama, o sítio onde nasce, se corre todo o ano, se é navegável, que embarcações pode comportar, etc) é dada num único e longo parágrafo, nem sempre com grande rigor nem clareza, contrariamente às águas do rio:

“O que se procura saber no interrogatorio do rio.

Ao pé da Quinta das Cavages, anexa desta Freguezia de Val de Janeiro, corre hum rio que por nome se chama Thuella (sic) que tem seu princípio na serra chamada de Libiam (?) (Serra Segundera). Ahi mói hum moinho, tem outro nacente na Senhora da Toiça com a mesma qualidade, tem outro nacente no lugar chamado Drozo (?), com a mesma abundancia de agoa e logo a poucos passos se juntam os três nacentes e adonde nacem se juntam. Tudo hé Reyno de Castella. Este corre do Norte pera o Sul e desde o lugar chamado Muymenta (sic) emté à villa de Mirandela tem cinco pontes de pedra. Em tempo de Imverno (sic) hé muito caudaloso e de Veram (sic) nunqua (sic) sequa (sic). A qualidade que nele se queriam (sic, por “criam”) sam trutas, vogas, barbos, escallos, imguias (sic) Emté ao distrito de Mirandella nam hé naveguável (sic); há muitos moinhos nelle e azenhas. Nam tenho delle mais notícia somente o juntar se com outro rio cá chamado Sabor que as suas agoas sam boas para sarar imfirmidades às criaturas e animais tomando vanhos (sic) nelle. E logo mais adiante se mistura com outro chamado Douro, sempre caudalozo e dispois desinvocam no mar perdendo o nome de Tuela fiqua com o nome Thua e nam pude alcançar notícia das legoas que tem de distancia do princípio emté ao fim. E dos mais interrogatorios deste rio nam tenho que dizer a elles.

E por ser verdade passei a prezente que asignei, oje (sic) Val de Janeiro e Abril, 8 de 1758, o Pe. Cura Antonio Diaz.“

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vale de Janeiro em 1758 - II


Segunda parte das Memórias. Aqui vão então as respostas enviadas pelo pároco de Vale de Janeiro em Abril de 1758 às últimas dezassete perguntas da primeira parte do Inquérito Paroquial de 1758. Mais uma vez, uma palavra especial para a obra coordenada pelo Professor José Viriato Capela, da Universidade do Minho, "As Freguesias do Distrito de Bragança nas Memórias Paroquiais de 1758", que recebi hoje mesmo (comprada na Livraria Minho, em Braga) e que contém a transcrição completa das respostas relativas a todas as freguesias do Distrito de Bragança. Consegui assim corrigir alguns erros e imprecisões da primeira parte e poupar os olhos a um trabalho de decifração demorado e provavelmente inglório...

10. Se tem conventos e de que religiosos ou religiosas e quem são os seus padroeiros?
A este nam tenho que dizer.

11. Se tem hospital, quem o administra e que renda tem?
A este também nada.

12. Se tem casa de misericórdia e qual foi a sua origem e que renda tem; e o que houver notavel em qualquer destas coisas?
Da mesma sorte.

13. Se tem algumas ermidas e de que santos e se estão dentro, ou fora do lugar e a quem pertencem?
Acham-se nesta freguezia da Senhora d’Assumçam do lugar de Val de Janeiro trez capellas além da matriz, adonde se acha o o orago, huma dellas hé no memso lugar de Val de Janeiro, chamada de Santo Antam abbade. Nella está a pia baptismal e os santos oleos e nella se diz a maior parte do anno missa aos freguezes (sic). Nam tem rendimentos. Outra capella está sita na anexa da Maçaira com o thitollo de Senhora do Rozario. Tem fazendas aboticadas pera a fabrica da mesma capella que bem valem trezentos mil reiz. Hé administrador della Joam Gonçalves da mesma Quinta, homme labrador. Há na mesma Quinta outra capella chamada de Santo Justo, que hé dos mesmos moradores da Quinta que elles mesmos adornam por nam ter outro rendimento. Tem a Quinta das Cavages, anexa desta mesma freguezia hua capella com o thitolo de Santo Miguel a oito de Mayo. Tem fazendas aboticadas e nam sei coantas por nam constar da instituição da mesma capella.

14. Se acodem a elas romagem, sempre ou em alguns dias do anno e quais?
A este nam há nada.

15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
Os frutos que colhem nesta freguezia são os seguintes: pam centeio, algum trigo, castanhas em abundância, vinho menos que midiano (!), peras, maçams, cerejas, prexegos (sic), molecotam, ameixoas.

16. Se tem juíz ordinário, etc., câmara ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra e qual é esta?
A este nam há nada.

17. Se é couto, cabeça de concelho, honra ou behetria (povoação cujos vizinhos tinham o direito de eleger o seu senhor)?
Nada.

18. Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas?
Nada.

19. Se tem feira e em que dias e quantos dura, se é franca ou cativa?
Nada.

20. Se tem correio e em que dias da semana chega e parte; e se o não tem, de que correio se serve e quanto dista a terra aonde ele chega?
21. Quanto dista da cidade capital do bispado e de Lisboa capital do reino?
Nam tem correio, o que serve hé o de Bragança para Chaves. De Bragança a Chaves dista doze legoas[1] e da cidade capital do bispado à cidade capital do Reyno, que hé Lisboa, dista oitenta legoas.

22. Se tem alguns privilegios, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória?
Nam tenho que dizer.

23. Se há na terra ou perto dela alguma fonte, ou lagoua célebre e se as suas águas tem alguma especial qualidade?
Nam há fontes de qualidade que se procurem.

24. Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
Nam há nada que diga.

25. Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se há nela ou no seu distrito algum castelo ou torre antiga e em que estado se acha ao presente?
O mesmo.

26. Se padeceu alguma ruina no Terremoto de 1755 e em quê e se está reparada?
No Terremoto pella miziricordia de Deos nam padeceo couza alguma.

27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório
Neste interrogatorio nam tenho que dizer.


Fim da Primeira Parte. Como se diz no cinema, não percam, dentro em breve, o terceiro e último capítulo desta saga, com as respostas relativas à Serra e ao Rio!


[1] Uma légua, até 1885, equivalia a 6600 metros. Passou nessa data a representar cerca de 5000 metros, e assim é até hoje.